22

November

2018

A Salpingectomia Diminui a Reserva Ovariana?

‍Foram selecionados três trabalhos mais recentes e com maior relevância científica para validar nossa conclusão.

Introdução

A relação entre a tuba uterina e o ovário não se dá exclusivamente pela proximidade e pela função. Williams, Jones e Merril (1951) descreveram alterações menstruais que ocorriam posteriormente em mulheres que foram submetidas a laqueadura tubária, alterações essas que foram posteriormente descritas como síndrome pós-laqueadura (1, 2). Trabalhos recentes mostram que essas alterações quando submetidas a análise estatística não são significativas (2). Porém, essa dúvida relação entre cirurgia tubária e eventual diminuição da função e reserva ovariana, que é explicada principalmente por lesões do componente vascular, que se intercomunica, sendo o ovário e a tuba irrigados pelas artérias ovariana e uterina e seus ramos (3). Diferente da função ovariana que usualmente tem expressão clínica quando afetada, a reserva ovariana cursa normalmente com função preservada, ou seja, as menstruações se mantêm regulares mas o ovário produz uma resposta limitada quando frente à estimulação de ovulação (3). Pacientes submetidas à salpingooforectomia unilateral apresentam níveis hormonais normais de FSH, que expressa a função, porém com diminuição acentuada dos níveis de hormônio antimülleriano, que expressa a reserva ovular (3).

Objetivo

Definir se a reserva ovariana é afetada pela cirurgia de salpingectomia.

Método

Pesquisa de estudos na base Medline, por intermédio do PubMed, levantando trabalhos publicados nos últimos 10 anos.

Resultados

Foram selecionados três trabalhos mais recentes e com maior relevância científica para validar nossa conclusão. Kotlyar et al. (3) avaliaram em um trabalho de revisão, o efeito da cirurgia de salpingetomia sobre a função e a reserva ovariana. Foram levantados 56 artigos e os parâmetros avaliados foram o hormônio folículo-estimulante (FSH), o hormônio antimulleriano (AMH), a contagem de folículos antrais (CFA) e a irrigação ovariana através da análise do doppler da artéria ovariana. Conclui que a esmagadora maioria dos trabalhos mostra não haver impacto da cirurgia sobre a função ovariana e aponta uma fraca relação entre pacientes que foram submetidas a salpingectomia e um maior uso de gonadotrofinas nessas pacientes quando submetidas a FIV-ICSI. Xu et al. (4) em um grande estudo de coorte com 51268 ciclos de FIV-ICSI avaliando a resposta ovariana em 3 grupos de pacientes, sem cirurgia prévia de trompa, submetidas a salpingostomia e o terceiro grupo a salpingectomia, concluiu não haver impacto da cirurgia tubária sobre a resposta ovariana à estimulação. No terceiro trabalho avaliado, Fan et al. (5) fizeram uma metanálise levantando 25 estudos com um total de 1935 pacientes salpingectomizadas e 2893 pacientes não submetidas a cirurgia tubária. Conclui que pode haver piora da resposta ovariana, assim como diminuição do AMH e da CFA (6).

Conclusão

Apesar dos estudos não serem absolutamente conclusivos, existem evidências, ainda que fracas, de que a salpingectomia afeta a reserva ovariana.

Referências bibliográficas

(1) Williams, Edwin L.; Jones, Harry E.; Merrill, Robert E.. The subsequent course of patients sterilized by tubal ligation. American Journal Of Obstetrics And Gynecology, [s.l.], v. 61, n. 2, p.423-426, fev. 1951. Elsevier BV.

(2) S Chhabra and S Mishra. “Menstrual Abnormalities in Women with Tubal Sterilization”. EC Gynaecology 6.1 (2017): 02-07.

(3) Kotlyar, Alexander et al. The Effect of Salpingectomy on Ovarian Function. Journal Of Minimally Invasive Gynecology, [s.l.], v. 24, n. 4, p.563-578, maio 2017. Elsevier BV.

(4) Xu, Zhen et al. Effect of treatment of a previous ectopic pregnancy on in vitro fertilization–intracytoplasmic sperm injection outcomes: a retrospective cohort study. Fertility And Sterility, [s.l.], v. 104, n. 6, p.1446-1451, dez. 2015. Elsevier BV.

(5) Fan, Minghui; MA, Lin. Effect of salpingectomy on ovarian response to hyperstimulation during in vitro fertilization: a meta-analysis. Fertility And Sterility, [s.l.], v. 106, n. 2, p.322-329, ago. 2016. Elsevier BV.

Publicado por
José Fernando de Souza Sales Júnior

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