26

January

2022

Biópsia de endométrio prévia à fertilização in vitro

A implantação embrionária é um processo complexo dependente de diversos fatores, incluindo a qualidade embrionária, receptividade endometrial, comunicação eficaz entre embrião e endométrio (cross-talk) e o sistema imunológico materno.

Introdução

A implantação embrionária é um processo complexo dependente de diversos fatores, incluindo a qualidade embrionária, receptividade endometrial, comunicação eficaz entre embrião e endométrio (cross-talk) e o sistema imunológico materno. Alterações nesses fatores podem comprometer a implantação, prolongar a busca pela gestação e aumentar os custos dos tratamentos de fertilidade. A antecipação e diagnóstico preciso dessas alterações podem ser essenciais para reduzir as falhas de implantação.

Objetivo

Investigar a eficácia e aplicabilidade da biópsia de endométrio prévia à Fertilização In Vitro (FIV).

Método

Realização de uma pesquisa na base Medline através do PUBMED, com foco em estudos publicados nos últimos cinco anos.

Resultados

A falha de implantação representa um desafio significativo na reprodução humana, demandando estratégias adequadas de enfrentamento. Para a aderência correta do embrião ao endométrio, é essencial um alinhamento nos processos entre eles. A implantação é um processo inflamatório, com destaque para o papel das células Natural Killer (NK) e citocinas. Desequilíbrios nesse sistema podem prejudicar a gestação.

Diversos métodos diagnósticos foram desenvolvidos para enfrentar a falha de implantação, mas muitos ainda carecem de comprovação de eficácia. A janela de implantação, o período de máxima receptividade endometrial (dias 19 a 21 do ciclo menstrual), pode ser afetada por condições como endometrite, prejudicando a adesão embrionária.

A endometrite crônica (EC) é uma inflamação caracterizada por alterações morfológicas que impactam a receptividade, dificultando a implantação. A histeroscopia com biópsia tornou-se um diagnóstico padrão-ouro da EC, mostrando eficácia no tratamento e elevando os índices de nascidos-vivos em mulheres inférteis.

A histeroscopia pode diagnosticar alterações mesmo em pacientes com exames visuais normais, aumentando as chances de gravidez em ciclos subsequentes. Em casos de falha recorrente de implantação, estudos indicam que a histeroscopia pode melhorar os resultados positivos de gravidez.

Intervenções adicionais (add-ons), como terapias imunológicas, scratching endometrial, endometrial receptivity array (ERA test) e outras, visam melhorar a receptividade endometrial. Estudos sugerem que o scratching pode ser benéfico em casos de falha recorrente de implantação, mas mais evidências são necessárias.

A biópsia embrionária permite avaliar diversos fatores, incluindo marcadores de receptividade e moléculas específicas. O ERA test, apesar de seu potencial, ainda carece de comprovação efetiva, pois a interação embrião-endométrio não está restrita a um período específico. Um guideline canadense de 2020 não recomenda algumas intervenções, indicando mais pesquisa.

Conclusão

A histeroscopia, embora não seja indicada rotineiramente na investigação inicial de infertilidade, mostra-se valiosa, especialmente quando combinada com biópsia endometrial. A biópsia, além de avaliar a receptividade, promove uma injúria no endométrio, cujo processo de cura pode beneficiar a implantação. Até o momento, não há consenso sobre a biópsia de endométrio de rotina, mas estudos encorajam sua consideração em casos de falha recorrente de implantação, embora evidências mais recentes questionem seu impacto nas taxas de nascidos-vivos ou gestação. O desenvolvimento de intervenções adicionais ainda necessita de mais evidências para comprovar sua eficácia.

Referências Bibliográficas

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Resumo para leigos

Enfrentar a falha na implantação do embrião no útero é um desafio na reprodução humana. Diversas técnicas foram desenvolvidas, como a histeroscopia com biópsia, para descobrir problemas uterinos, inflamações prejudiciais como a endometrite, ou presença de microrganismos agressores no endométrio. No entanto, estudos indicam que a histeroscopia não deve ser a primeira escolha na investigação inicial da infertilidade, especialmente se a ultrassonografia for normal.

A biópsia endometrial, ao causar uma injúria local, pode ativar uma inflamação que melhora a receptividade do endométrio ao embrião. Outras técnicas obtidas por meio da biópsia, como o ERA test - uma pesquisa para identificar a fase ideal para transferência embrionária - foram cri

adas. No entanto, nenhuma dessas novas técnicas mostrou evidências científicas consistentes de aumento de nascidos-vivos na prática clínica cotidiana. Algumas são caras e podem causar desconforto físico e psicológico. Entretanto, nos casos de falha recorrente de implantação, onde a causa pode ser endometrial, o exame do endométrio pode ajudar no diagnóstico.

Publicado por
Marcelo Luís Pierro Saraiva

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Mariana Medina de Almeida Pereira

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Alyssa Montoro Françozo Miranda

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