26

January

2022

Qual o impacto da Fragmentação do DNA espermático nos Tratamentos de Reprodução Assistida (TRA)?

A integridade do DNA do espermatozóide é um importante fator para o desenvolvimento do embrião. A fragmentação do DNA espermático (TFDna) pode ser induzida durante a remodelação da cromatina na espermiogênese. Os mecanismos que podem levar a essa perda de integridade do DNA espermático são: substituição de proteínas histonas por protamina, apoptose defeituosa, excesso de espécies reativas de oxigênio, atividade das nucleases endógenas (endonucleases), toxinas ambientais e tratamentos gonatotóxicos como a radio e quimioterapia.

No entanto, as evidências na literatura não são uniformes, são ainda insuficientes. Existem discrepâncias entre os estudos publicados sobre o impacto da TFDna espermático e a qualidade do embrião.

O que diz a literatura?

  • Alvarez Sedó et al. observaram que o teste da Fragmentação do DNA espermático foi negativamente associado com as taxas de blastulação e gravidez.
  • Sun et al. relataram que não há associação com a aneuploidia de blastocisto e grau morfológico.
  • Zheng et al. descobriram que a Fragmentação do DNA espermático teve um efeito negativo sobre a qualidade do embrião em clivagem e as taxas de formação de blastocisto.
  • Kim, G. Y. relatou que a Fragmentação do DNA espermático está associada à diminuição da taxa de fertilização, qualidade do embrião e gravidez.
  • Não há evidências suficientes sobre o papel da Fragmentação do DNA espermático em parâmetros morfocinéticos no desenvolvimento de embriões (Nikolova et al., 2020).
  • Antonouli et al. relataram que a Fragmentação do DNA espermático não afetou significativamente o desenvolvimento embrionário ou as taxas de gravidez em pacientes ICSI com oócitos doados.

Em resumo, o efeito da Fragmentação do DNA espermático sobre o desenvolvimento embrionário, implantação e taxas de gravidez é controverso para FIV / ICSI.

Para tentar responder estas questões acima fizemos uma revisão das últimas evidências na literatura:

  1. Um estudo retrospectivo Coreano de 02.2019 avaliou 53 ciclos FIV/ICSI. Neste estudo concluíram que níveis elevados de TFD podem influenciar o desenvolvimento inicial do embrião até o estágio de 4 células. A TFD pode ativar vias de reparo de DNA e o desenvolvimento do embrião pode ser atrasado, resultando em embriões de baixa qualidade. Pontos fortes deste estudo: utilizou apenas normorespondedoras e limitações: foi um estudo de natureza retrospectiva e pequeno tamanho da amostra.
  2. Um estudo brasileiro de coorte, publicado na revista Fertility Sterility em junho de 2019, avaliou 475 ciclos de ICSI com resultados significativos para uma melhor qualidade do blastocisto e melhores taxas de implantação para o grupo com fragmentação do DNA menor do que 20%.
  3. Um estudo Chinês de 2020, retrospectivo com 2067 ciclos não demonstrou diferenças estatisticamente significativas de taxas de gravidez clínica e taxas de abortamentos nos grupos com fragmentação DNA menor de 15%, entre 15 e 30% e maior do que 30%.
  4. Um outro estudo Iraniano publicado em junho de 2020, prospectivo avaliou que não há impacto negativo da TFDna espermático na morfologia e no desenvolvimento morfocinético do embrião.
  5. Um estudo Chinês, observacional e retrospectivo, de Shangai na China avaliou o impacto da TFDna espermático em casais com perdas recorrentes de gestação. O estudo evidenciou maiores taxas de perdas gestacionais em casais com maior TFDna, quando estas estavam acima de 15% e mais ainda quando estavam acima de 30%.
  6. E o mais recente estudo, realizado na Suécia, e publicado m junho de 2021 na revista Fertility Sterility avaliou o impacto da TFDna em 2.713 casais e 5.422 ciclos a fresco e congelados. Foi evidenciado neste estudo que a TFDna espermático não afeta as taxas cumulativas de nascidos vivos quando realizado a ICSI, mas é significativamente inferior quando se realiza a FIV clássica.

Conclusão

A TFDna vem ganhando destaque nos Tratamentos de Reprodução Assistida (TRA). Há evidências de um impacto negativo da TFDna espermático nos TRA, principalmente quando está maior que 20% ou 30%, e este impacto se dá sobre o desenvolvimento embrionário, a implantação embrionária, as taxas de gestação clínica e taxas de abortamentos. Apesar disto, não há grau de recomendação elevada para indicar o exame para todos os TRA. Mais estudos prospectivos e controlados são necessários para avaliar as precisas indicações. Para pacientes com alta TFDna a ICSI tem se demonstrado na literatura como o tratamento de escola nos TRA.

Publicado por
Danilo Scheit Vieira Junior

Publicado por
Emiliane Favoreto

Publicado por
Davi Côrtes dos Anjos

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