Introdução
A microbiota vaginal humana desempenha um importante papel na manutenção da saúde da mulher em idade reprodutiva. A maioria dessas mulheres têm sua mucosa vaginal dominada apenas pelos Lactobacilos, que são bactérias produtoras de bacteriocinas e ácido lático, mantendo o pH vaginal entre 3,0 e 4,5. O ácido impede o crescimento de muitas outras bactérias anaeróbias porém sem induzir a produção de citocinas pró-inflamatórias, maximizando a fecundidade e o resultado de gestações bem sucedidas. O desequilíbrio dessa microbiota favorece o surgimento de infecções genitais, representada principalmente pela vaginose bacteriana, com prevalência de 19% na população infértil2 e relacionada à quadros de infertilidade1.
Objetivo
Avaliar dados da literatura que comprovem se as bactérias vaginais podem comprometer a fertilidade.
Métodos
Pesquisa de estudos na base Medline, por intermédio do PubMed.
Resultados
A vaginose bacteriana pode afetar, sob diferentes mecanismos, todas as fases reprodutivas da vida da mulher. Desde o período pré-concepcional, aumentando a incidência de doença inflamatória pélvica, cervicites e aquisição de outras doenças sexualmente transmissíveis como HPV, HIV, Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae4,1. Durante a fertilização, por liberação de citocinas pró-inflamatórias (IL-beta e IL-8) e alterações de motilidade e viabilidade espermática. Durante a gravidez, com resultados peri-natais adversos, como corioamnionite, parto pré-termo e aborto tardio. E no período pós-parto ocasionando infecção neonatal4. A Gardnerella vaginalis, assim como vários outros microorganismos causadores de infecções urogenitais, como Escherichia coli, Enterococcus faecalis, Streptococcus agalactiae, Ureaplasma urealyticum e Candida albicans têm um impacto negativo na qualidade e motilidade espermática, causando o fenômeno de aglutinação, prejuízo da reação acrossômica e alterações na morfologia celular3. Um estudo prospectivo que comparou a eficácia entre dois métodos diagnósticos para avaliar a taxa de sucesso de FIV evidenciou inferiores taxas de gestação clínica nas mulheres diagnosticadas com microbiota vaginal anormal (MVA) em ambos os grupos. Elas foram avaliados pelos métodos de PCR e escore de Nugent, sendo que o primeiro foi considerado superior na detecção de Gardnerella vaginalis nas mulheres inférteis que foram submetidas à esse estudo2.
Conclusão
Se existe a correlação negativa entre a microbiota vaginal anormal e os resultados de gestação clínica em pacientes de FIV, as pacientes deveriam ser rastreadas e tratadas antes de serem submetidas à tratamento de infertilidade2. O intuito de reestabelecer a microbiota vaginal aumentando os níveis de ácido lático local parece ser uma alternativa ao uso de antibióticos, o que pode melhorar os resultados gestacionais nessas mulheres1. A administração de cepas de probióticos cuidadosamente selecionadas pode restaurar e manter o ecossistema vaginal saudável, melhorando assim a saúde reprodutiva4.
Referências bibliográficas
1. Witkin SS, Linhares IM. Why do lactobacilli dominate the human vaginal microbiota? BJOG 2017; 124:606–611.
2. T. Haahr, J.S. Jensen, L. Thomsen, L. Duus, K. Rygaard and P. Humaidan. Abnormal vaginal microbiota may be associated with poor reproductive outcomes: a prospective study in IVF Patients. Human Reproduction, Vol.31, No.4 pp. 795–803, 2016.
3. Melania Ruggeri, Sara Cannas, Marina Cubeddu, Paola Molicotti, Gennarina Laura Piras, Salvatore Dessole, Stefania Zanetti. Bacterial agents as a cause of infertility in humans. New Microbiologica, 39, 3, 206-209, 2016, ISN 1121-7138.
4. P. Mastromarino, R. Hemalatha, A. Barbonetti, B. Cinque, M.G. Cifone, F. Tammaro & F. Francavilla. Biological control of vaginosis to improve reproductive health. Indian J Med Res 140 (Supplement), November 2014, pp 91-97.
5. R.J. Kuon, R. Togawa, K. Vomstein, M. Weber, T. Goeggl, T. Strowitzki, U.R. Markert, S. Zimmermann, V. Daniel, A.H. Dalpke, B. Toth. Higher prevalence of colonization with Gardnerella vaginalis andgram-negative anaerobes in patients with recurrent miscarriage andelevated peripheral natural killer cells. Journal of Reproductive Immunology 120 (2017) 15–19.