Introdução
Micoplasma é a denominação comum das bactérias dos gêneros Mycoplasma e Ureaplasma. Essas bactérias peculiares, não possuem parede celular e correspondem aos menores organismos livres (tanto em tamanho quanto em número de genes). A ausência de parede celular é responsável pelo seu acentuado polimorfismo e resistência aos antibióticos β-lactâmicos (1). A espécie Mycoplasma genitalium é sabidamente patogênica ao trato genitourinário, enquanto Ureaplasma parvum, U urealyticum e Mycoplasma hominis são bactérias oportunistas que podem apresentar comportamento patogênico (2).Os estudos atuais vêm apresentando alta prevalência dessas bactérias no trato genital inferior de mulheres sintomáticas bem como de assintomáticas (3). Essa alta prevalência em pacientes assintomáticas, levanta questionamentos sobre a possível indicação de pesquisa de rotina dos micoplasmas em todas as pacientes e se, uma vez diante de exame positivo em assintomática, o tratamento com antibiótico deve ou não ser instituído, pois a medicação indiscriminada têm contribuído para o desenvolvimento de resistência aos antibióticos em diversas populações. Por outro lado, não pode ser ignorada a associação bem estabelecida dos micoplasmas com várias morbidades urogenitais, entre elas, a infertilidade(4,6).
Objetivo
Pesquisar, em artigos científicos, dados atuais envolvendo a infecção do trato genital inferior pelo micoplasma e em seguida destacar pontos relevantes avaliando a possível aplicação desses achados na rotina de cuidados da paciente infértil.
Método
Pesquisa de revisão bibliográfica na base Medline, por intermédio do Pub Med, com levantamento dos trabalhos publicados nos últimos 5 anos.
Resultados
Quanto ao diagnóstico, devido às características acima descritas (tamanho e ausência de parede celular), a visualização direta dos micoplasmas por microscopia é muito difícil. Dessa forma, os métodos diagnósticos de escolha são a cultura e a biologia molecular (PCR) (1,5,6). Para a cultura, deve-se lembrar de utilizar meio específico, que permita o crescimento da bactéria que se deseja investigar (1). O exame de PCR oferece a vantagem de poder ser realizado em qualquer produto biológico e nos estudos ele tem demonstrado maior sensibilidade, caracterizando a presença do micoplasma em pacientes onde a cultura foi negativa (1,6). Ainda, a realização do PCR com estabelecimento do sorotipo pode vir a ser importante como ferramenta de diagnóstico que associe a interpretação da patogenicidade contribuindo na definição dos casos que necessitam de tratamento.Uma vez que o diagnóstico seja estabelecido e opte-se pelo tratamento, é importante ter em mente que a resistência desses microorganismos aos antibióticos merece atenção e que testes de susceptibilidade aos antibióticos têm sido executados (1). Estudos que avaliaram a susceptibilidade dos micoplasmas aos antibióticos têm mantido a doxiciclina como droga de escolha para o tratamento das infecções urogenitais pelo mycoplasma (4,7).ConclusãoNovas tecnologias permitem hoje a fácil detecção dos micoplasmas nos materiais humanos. No entanto, sabemos que além dos microorganismos patogênicos os comensais também são caracterizados nessas pesquisas, até o momento, sem distinção entre eles. O uso de métodos que estabeleçam a sorotipagem do gênero em questão pode representar uma possibilidade de auxílio nessa seleção. Assim, mais estudos são necessários para definirmos melhor os casos que realmente terão benefício com uso do antibiótico, diminuindo o uso indiscriminado e como consequencia preservando a susceptibilidade às drogas.
Referências Bibliográficas
1. Domingues D, Nogueira F, Tavira L, Exposto F. Micoplasmas. Qual papel nas infecções humanas. Acta Med Port 2005; 18: 377-384
2. Rumyantseva T, Guzel Khayrullina, Alexander Guschin, Gilbert Donders Prevalence of Ureaplasma spp. and Mycoplasma hominis in healthy women and patients with flora alterations Diagn Microbiol Infect Dis. 2019 Mar;93(3):227-231
3. Lima LM et al Sexually Transmitted Infections Detected by Multiplex Real Time PCR in AsymptomaticWomen and Association with Cervical Intraepithelial Neoplasia Rev Bras Ginecol Obstet. 2018 Sep;40(9)
4. Dhawan B, Malhotra N, Sreenivas V, Rawre J, Khanna N, Chaudhry R, Mittal S. Ureaplasma Serovars and their antimicrobial susceptibillity in patients of infertility and genital tract infections. Indian J Med Res. 2012 Dec;136(6):991-6
5. Xie QZ, Xu WM, Qi QR, Luo ZL, Dong L. Patients with Cervical Ureaplasma Urealyticum and Chlamydia Trachomatis Infection Undergoing IVF/ICSI-ET: The Need for New Paradigm* J Huazhong Univ Sci Technolog Med Sci. 2016 Oct;36(5):716-722.
6. Christian L, et al Prevalence of cervical colonization by Ureaplasma parvum, Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma hominis and Mycoplasma genitalium in childbearing age women by a commercially available multiplex real-time PCR: An Italian observational multicentre study. J Microbiol Immunol Infect. 2018 Apr;51(2):220-2257. Schneider S C, Tinguely R, Droz S, Hilty M, Donà V, Bodmer T, Endimiani A Antibiotic Susceptibility and Sequence Type Distribution of Ureaplasma Species Isolated from Genital Samples in Switzerland Antimicrobial Agents and Chemotherapy 2015 Oct;59(10): 6023-6031