Introdução
Os principais fármacos utilizados para estimulação ovariana em baixa complexidade são o clomifeno, os inibidores da aromatase (principalmente o letrozol) e as gonadotrofinas. Este tratamento farmacológico tem o objetivo de estimular os ovários, induzindo o desenvolvimento de vários folículos ovarianos maduros ou promovendo a indução da ovulação em mulheres anovulatórias. Infertilidade inexplicada e síndrome de ovários policísticos são as principais causas tratáveis em baixa complexidade. Infertilidade inexplicada é um diagnóstico de exclusão feito após avaliação padrão e nenhuma etiologia clara é encontrada. Acomete até 30% dos casais inférteis, e o tratamento é empírico, consistindo no uso de agentes estimuladores orais associados com inseminação intrauterina ou fertilização in vitro. A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é o distúrbio endócrino mais comum em mulheres em idade reprodutiva, sendo a principal causa de infertilidade anovulatória.
Objetivo
Revisar o uso de estimuladores ovarianos e sua eficácia no tratamento de baixa complexidade da infertilidade.
Métodos
Pesquisa de estudos na base Medline por intermédio do Pubmed.
Discussão
Vários estudos comparam o uso de estimuladores ovarianos no tratamento de baixa complexidade na infertilidade conjugal. Na infertilidade inexplicável, o uso de citrato de clomifeno (CC) e do letrozol são os mais indicados, tendo taxas semelhantes de nascidos vivos quando associados à Inseminação intrauterina (IIU). Não existe benefício do uso de gonadotrofinas em baixa dosagem (<150) ou dose convencional, associadas ou não com agentes estimuladores orais. Quando aplicados critérios de cancelamento rigorosos, a taxa de nascidos vivos é semelhante ao uso do clomifeno ou letrozol sozinhos com IIU. As gonadotrofinas, quando utilizadas sem critérios de cancelamento rigorosos, aumentam a taxa de gestação às custas de gestações múltiplas, adicionando morbidade materna e fetal e aumentando o risco de síndrome de hiperestímulo ovariano.
Nas mulheres com SOP, cerca de 25% são resistentes ao CC, sendo o letrozol atualmente definido como tratamento de primeira linha, podendo ser associado ou não com metformina. Um estudo comparando letrozol 2,5 mg e letrozol 2,5 mg associado com citrato de clomifeno 50 mg, Mejia RB et al., mostrou maior taxa de ovulação no segundo grupo, porém necessita de maiores avaliações com relação ao ajuste de dose e número de ciclos. Em outro estudo, Suvasmita et al. avaliaram mulheres com infertilidade e SOP que eram resistentes ao clomifeno. Elas foram divididas em dois grupos, sendo um recebendo gonadotrofina na dose de 75 U a partir do segundo dia do ciclo e outro grupo recebendo letrozol do D2 ao D6 do ciclo associado a gonadotrofina 75 U no D2, D5 e D8. Ambos usaram gonadotrofina coriônica (hCG) quando o folículo atingia 18 mm. O resultado mostrou taxa de gestação e ovulação semelhantes nos dois grupos, com menos risco de síndrome de hiperestímulo e conversão para FIV no grupo do letrozol, além de um custo bem inferior.
Referências
- Letrozole, Gonadotropin, or Clomiphene for Unexplained Infertility, Diamond MP, Legro RS, Coutifaris C, Alvero R, Robinson RD, Casson P, Christman GM, Ager J, Huang H, Hansen KR, Baker V, Usadi R, Seungdamrong A, Bates GW, Rosen RM, Haisenleder D, Krawetz SA, Barnhart K, Trussell JC, Ohl D, Jin Y, Santoro N, Eisenberg E, Zhang H; NICHD Reproductive Medicine Network, N Engl J Med. 2015 Sep 24
- A Study of Controlled Ovarian Stimulation with Clomiphene Citrate or Letrozole in Combination with Gonadotropins and IUI in Unexplained Infertility., Hembram M, Biswas R, Jain A., J Hum Reprod Sci. 2017 Jul-Sep, j.fertnstert.2020.07.030
- A randomized controlled trial of combination letrozole and clomiphene citrate or letrozole alone for ovulation induction in women with polycystic ovary syndrome. Mejia RB, et al. Fertil Steril. 2019
- Cost-effective protocol with letrozoles and 3 doses of gonadotropin as an alternative to continuous gonadotropin for ovulation induction for IUI in clomiphene citrate-resistant PCOS patients, Suvasmita Saha, MD (G&O), Hasibul Hasan Shirazee, MD(G&O), j.fertnstert.2020.09.026
- Evidence-based treatments for couples with unexplained infertility: a guideline, Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine Fertility and Sterility, February 2020
- Letrozole and human menopausal gonadotropin for ovulation induction in clomiphene resistance polycystic ovary syndrome patients: A randomized controlled study. Shi S, et al. Medicine (Baltimore). 2020.
- Use of letrozole and clomiphene citrate combined with gonadotropins in clomiphene-resistant infertile women with polycystic ovary syndrome: a prospective study. Xi W, et al. Drug Des Devel Ther. 2015
- First-line ovulation induction for polycystic ovary syndrome: an individual participant data meta-analysis., Wang R, et al. Hum Reprod Update. 2019
Resumo para leigos
Medicamentos Utilizados para Induzir a Ovulação
Muitas mulheres necessitam de ajuda para engravidar. Após uma avaliação criteriosa, pode ser necessária a utilização de medicamentos que estimulem ou induzam a ovulação. As pacientes que mais se beneficiam são as pacientes diagnosticadas com síndrome de ovário policístico e as pacientes sem causa aparente para dificuldade para engravidar. As medicações mais utilizadas são o citrato de clomifeno e o letrozol, que são comprimidos tomados por via oral. As gonadotrofinas são medicações mais potentes e são aplicadas através de injeções subcutâneas. Essas medicações só devem ser usadas após avaliação criteriosa pela médico, pois existem riscos para a saúde, como gravidez de gêmeos ou trigêmeos, além de síndrome de hiperestímulo, que é uma complicação muito grave.