21

March

2019

Indicação de Pesquisa de Microdeleção de Cromossomo Y e sua Interpretação

A espermatogênese humana consiste em um processo que envolve divisões mitóticas e meióticas, onde defeitos em qualquer etapa desse processo podem levar à infertilidade masculina.

Introdução

A espermatogênese humana consiste em um processo que envolve divisões mitóticas e meióticas, onde defeitos em qualquer etapa desse processo podem levar à infertilidade masculina 1,3,4. Em pacientes com a espermatogênese severamente prejudicada9, causas genéticas de azoospermia podem ser detectadas e incluem anormalidades cromossômicas, mutações específicas e microdeleções do cromossomo Y1,7,8,18. O braço longo do cromossomo Y humano contém uma região que agrupa genes responsáveis pela iniciação e manutenção da espermatogênese19,20,21. Essa região é conhecida como AZF (Azoospermia Factor)5, possui três sub-regiões (AZFa, AZFb, AZFc)6,9,19,23 e microdeleções nesse intervalo estão frequentemente associadas a azoospermia17, sendo a segunda causa de infertilidade masculina de origem genética23. Alguns autores relatam a existência de uma quarta região AZFd, porém outros estudos não confirmam essa hipótese24,25,26. A auto-recombinação do braço longo (Yq) do cromossomo Y possibilita a ocorrência de deleções intra-cromossômicas, que levam à variação do número de cópias desse cromossomo resultando em infertilidade1. De prevalência desconhecida, aproximadamente 10% dos pacientes com azoospermia não obstrutiva e 5% de pacientes com oligozoospermia severa apresentam essa alteração genética23,27. O manejo clínico desses pacientes tem sido um desafio para a área médica17.Objetivo: Indicação e interpretação da pesquisa de microdeleção do cromossomo Y.

Métodos

Pesquisa de estudos na base Medline, por intermédio do PubMed e Science Direct.

Resultados

Segundo COLACO & MODI (2018) há uma falta de consenso em relação à utilidade clínica do teste de microdeleções do cromossomo Y. Adicionalmente, para BEHRE e colaboradores (2015) ainda não está claro se alguns dos genes das respectivas regiões são de fato patologicamente relevantes. Entretanto, estudos de metanálise mostraram uma relação direta entre as microdeleções e o risco de infertilidade (OR = 2-2,5) 13,14,15,16. A região AZFc, foi descrita como o subtipo de deleção mais frequentemente encontrado (60-80%)17,23 em homens com azoospermia não obstrutiva ou oligoospermias severas (<1 mill/ml) e diagnóstico genético de microdeleção da região AZF, quando comparado às demais regiões AZFa (0,5-4%), AZFb (1-5%) e AZFbc (1-3%)1. Para GALEGO e colaboradores (2014) é aceitável iniciar o estudo de microdeleções do cromossomo Y quando a concentração espermática for inferior a 2 milhões/mL. Porém, a Associação Americana de Urologia28, determina o teste de microdeleção do cromossomo Y a todos os homens com azoospermia não obstrutiva ou oligospermia (5 milhões/mL). Nenhum parâmetro clínico pode ajudar a distinguir pacientes com microdeleções do cromossomo Y de homens inférteis sem microdeleção e, portanto, o rastreamento de todos os homens com oligo ou azoospermia grave e sem outras causas está indicado, já que microdeleções do cromossomo Y foram descritas em homens férteis.10, 11, 12. Além disso, acredita-se que através dessa triagem é possível prever o prognóstico de pacientes inférteis17, recomendar o aconselhamento genético9,17,27 e identificar os pacientes que poderão se beneficiar de intervenções médicas ou cirúrgicas.Conclusão: As evidências atuais recomendam a indicação da pesquisa de microdeleção do cromossomo Y para todos os pacientes com azoopermia não obstrutiva e oligoospermias severas. O resultado positivo para microdeleção possui relação direta com a infertilidade e recomenda-se que apenas pacientes portadores de microdeleções na região AZFc sejam submetidos a técnicas de recuperação de espermatozoides. O teste de microdeleção é considerado preciso, porém as terapias para essa condição ainda são insuficientes. Uma abordagem multidisciplinar é fundamental para atendimento aos pacientes com essas condições.

Referências bibliográficas

1. Colaco S, Modi D. Genetics of the human Y chromosome and its association with male infertility. Reprod Biol Endocrinol. 2018 Feb 17;16(1):14.

2. OMS. Laboratory manual for the examination and processing of human semen. 5th ed. Geneva: World Health Organization; 2010.

3. Hotaling J, Carrell DT. Clinical genetic testing for male factor infertility: current applications and future directions. Andrology. 2014; 2:339–50.

4. Colaco S, Lakdawala A, Modi D. Role of Y chromosome microdeletions in the clinical evaluation of infertile males. MGM J Med Sci. 2017;4:79–88.

5. Tiepolo L, Zuffardi O. Localization of factors controlling spermatogenesis in the nonfluorescent portion of the human Y chromosome long arm. Hum Genet. 1976;34(2):119–24

6. Miyamoto T, Minase G, Shin T, Ueda H, Okada H, Sengoku K. Human male infertility and its genetic causes. Reprod Med Biol. 2017 Mar 26;16(2):81-88.

7. Stahl PJ, Schlegel PN. Genetic evaluation of the azoospermic or severely oligozoospermic male. Curr Opin Obstet Gynecol. 2012;24:221‐228

8. Miyamoto T, Minase G, Okabe K, Ueda H, Sengoku K. Male infertility and its genetic causes. J Obstet Gynaecol Res. 2015;41:1501‐1505.

9. Behre HM, Bergmann M, Simoni M, Tüttelmann F. In: De Groot LJ, Chrousos G, Dungan K, Feingold KR, Grossman A, Hershman JM, Koch C, Korbonits M, McLachlan R, New M, Purnell J, Rebar R, Singer F, Vinik A, editors. Endotext [Internet]. South Dartmouth (MA): MDText.com, Inc.; 2000. 2015.

10. Simoni M, Tüttelmann F, Gromoll J, Nieschlag E (2008) Clinical consequences of microdeletions of the Y chromosome: the extended Münster experience. Reprod. Biomed. Online 16:289–303

11. McLachlan RI, O'Bryan MK (2010) Clinical Review#: State of the art for genetic testing of infertile men. J. Clin. Endocrinol. Metab. 95:1013–1024

12. Kent-First M, Muallem A, Shultz J, Pryor J, Roberts K, Nolten W, Meisner L, Chandley A, Gouchy G, Jorgensen L, Havighurst T, Grosch J (1999) Defining regions of the Y-chromosome responsible for male infertility and identification of a fourth AZF region (AZFd) by Y-chromosome microdeletion detection. Mol. Reprod. Dev. 53:27–41

13. Tüttelmann F, Rajpert-De Meyts E, Nieschlag E, Simoni M (2007) Gene polymorphisms and male infertility--a meta-analysis and literature review. Reprod. Biomed. Online 15:643–658.

14. Visser L, Westerveld GH, Korver CM, van Daalen, S K M, Hovingh SE, Rozen S, van der Veen F, Repping S (2009) Y chromosome gr/gr deletions are a risk factor for low semen quality. Hum. Reprod. 24:2667–2673.

15. Navarro-Costa P, Gonçalves J, Plancha CE (2010) The AZFc region of the Y chromosome: at the crossroads btween genetic diversity and male infertility. Hum. Reprod. Update 16:525–542.

16. Stouffs K, Lissens W, Tournaye H, Haentjens P (2011) What about gr/gr deletions and male infertility? Systematic review and meta-analysis. Hum. Reprod. Update 17:197–209.

17. Esteves SC. Clinical management of infertile men with nonobstructive azoospermia. Asian J Androl. 2015 May-Jun;17(3):459-70.

18. Esteves SC, Agarwai A. The azoospermic male: current knowledge and future perspectives. Clinics (Sao Paulo) 2013;68(Suppl 1):1–4

19. Simoni M, Tüttelmann F, Gromoll J, Nieschlag E. Clinical consequences of microdeletions of the Y chromosome: the extended Münster experience. Reprod Biomed Online. 2008;16:289–303

20. Hamada AJ, Esteves SC, Agarwal A. A comprehensive review of genetics and genetic testing in azoospermia. Clinics (Sao Paulo) 2013;68(Suppl 1):39–60.

21. Repping S, Skaletsky H, Lange J, Silber S, Van Der Veen F, et al. Recombination between palindromes P5 and P1 on the human Y chromosome causes massive deletions and spermatogenic failure. Am J Hum Genet. 2002;71:906–22

22. Vogt PH, Bender U. Human Y chromosome microdeletion analysis by PCR multiplex protocols identifying only clinically relevant AZF microdeletions. Methods Mol Biol. 2013;927:187–204

23. Gallego A, Rogel R, Luján S, Plaza B, Delgado F, Boronat F. AZF gene microdeletions: case series and literature review. Actas Urol Esp. 2014 Dec;38(10):698-702. Epub 2014 Jun 19.

24. Liu RZ. AZF deletions and male infertility. Zhonghua Nan Ke Xue. 2012;18:963-8.

25. Kent-First M, Muallem A, Shultz J, Pryor J, Roberts K, Nolten W, et al. Defining regions of the Y-chromosome responsible for male infertility and identification of a fourth AZF region (AZFd) by Y-chromosome microdeletion detection. Mol Reprod Dev. 1999;53:27-41.

26. Simoni M, Bakker E, Krausz C. EAA/EMQN best practice guidelines for molecular diagnosis of y-chromosomal microdeletions. State of the art 2004. Int J Androl. 2004;27:240-9

27. Hotaling J, Carrell DT. Clinical genetic testing for male factor infertility: current applications and future directions. Andrology. 2014 May;2(3):339-50.

28. AUA. (2010) The Optimal Evaluation of the Infertile Male: AUA Best Practice Statement. American Urological Association Education and Research, Inc. Available at: www.auanet.org/common/pdf/education/ clinical-guidance/Male-Infertility-b.pdf. Acesso em 03 jul 2018.

Publicado por
Carla Staats

Outros artigos que podem ser do seu interesse

Diagnóstico pré-implantacional na atualidade - PGS

Estudar os testes de triagem para doenças genéticas e cromossômicas, quais suas indicações e novidades, para melhor aconselhar os casais inférteis.
Jorge Moura
09
Feb
2024

Limites do FSH

O hormônio folículo estimulante (FSH) é um dos marcadores de reserva ovariana mais conhecido no mundo. Ele é considerado apropriado pois é barato, acessível, geralmente tem cobertura pelo plano de saúde, e pode ser encontrado em qualquer laboratório
Jorge Moura
09
Feb
2024

Teste de fragmentação de DNA espermático

Utilidade clínica do teste de fragmentação do DNA espermático no cenário da infertilidade conjugal.
Jorge Moura
09
Feb
2024